quarta-feira, 21 de março de 2012

DISCRIMINAÇÃO RACIAL E AS COTAS

Hoje, 21 de março, é o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Relembramos aqui um artigo do deputado federal Arnaldo Jordy sobre a defesa do sistema de cotas raciais nas universidades públicas. Como deputado estadual, Jordy apresentou Projeto de Lei para instituir sistema de reserva de cotas para negros e índios na Universidade Estadual do Pará. Acompanhe o artigo abaixo:



A luta pelas cotas raciais, defende Jordy, é justa, uma vez que é negra a maioria de jovens que está fora da Universidade. Segundo o IBGE, em 2006, dos jovens até 25 anos, apenas 8,6% possuíam nível superior e, nesse grupo, 6,9 % eram brancos e 1,7% eram negros, uma proporção que nega a quase eqüitativa distribuição entre brancos e negros na população brasileira.

 Autoria de Arnaldo Jordy

Passados 120 anos da Abolição, e ainda que o governo brasileiro tenha assumido na Conferência Mundial contra o Racismo, realizada em 2001 em Durban, África, o compromisso de atender demanda do movimento negro de implementar ações afirmativas - entre as quais se inclui a reserva de cotas nas universidades públicas - ainda há enorme resistência da sociedade em compreender essa política como um dos instrumentos de combate à discriminação racial.

O resultado do sistema de cotas já implantado em dezenas de universidades públicas é positivo: nos últimos cinco anos, mais alunos negros ingressaram no ensino superior do que em todo o século passado. Estudos em duas universidades estaduais do Rio de Janeiro comprovam que alunos cotistas têm melhor desempenho do que aqueles que ingressaram pelo sistema universal.

Minha posição favorável à reserva de cotas para alunos afro-brasileiros, indígenas e oriundos do ensino público está consolidada na apresentação de Projeto-de-Lei na Assembléia Legislativa, que propõe cotas na UEPA. Mas, reconheço que há posições contrárias na sociedade e até dentro das universidades, que reputo mais à ausência de debate do que a convicções racistas.

Arrisco uma hipótese para enfrentarmos essa resistência: muitos ainda crêem que eliminamos o racismo e a discriminação na letra da lei desde a Constituição de 1891, que “decretou” que todos eram iguais, esquecendo-se que isso apenas “legalizava” a brutal exclusão dos escravizados libertos dois anos antes, sem acesso à terra, à educação, sem moradia, sem nenhuma condição de concorrer entre “homens livres”.

Os argumentos contrários estão reunidos no documento assinado por vários intelectuais, entre eles alguns reconhecidamente progressistas, baseados no princípio da igualdade, segundo o qual todos os cidadãos devem ser tratados sem distinção. Com isso, colocam-se contra a Lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial.

Esse argumento foi serenamente rebatido na semana passada pelo ministro Carlos Ayres Britto, do STF, em seu voto sobre a legalidade das cotas do PROUNI afirmando que “...o típico da lei é fazer distinções, diferenciações, desigualações (...) É pelo combate a situações de desigualdade que se concretiza o valor da igualdade.” E o ministro reforça que esse tratamento “desigual” é realidade na legislação brasileira, quando se definiu um prazo da licença-maternidade maior do que o previsto para a licença-paternidade e idades distintas para aposentadoria de homens e mulheres.

O outro argumento do movimento contra as cotas e o Estatuto é que “...se forem aprovados, a nação brasileira passará a definir os direitos das pessoas com base na tonalidade da sua pele” e que isso é que promoveria “uma classificação racial oficial dos cidadãos brasileiros”.

Lembramos aqui que a sociedade brasileira sempre categorizou os cidadãos pela cor da pele: eram negros os que eram impedidos de entrar nos elevadores sociais, até que a lei abolisse essa discriminação. São eles também que são preteridos no mercado de trabalho, ainda que tenham a mesma experiência e qualificação do trabalhador branco. E quando garantem o ingresso no trabalho recebem salários inferiores aos brancos, exercendo a mesma função. No caso das mulheres negras o desnível é ainda maior.

É negra a maioria de jovens que está fora da Universidade. Segundo o IBGE, em 2006, dos jovens até 25 anos, apenas 8,6% possuíam nível superior e, nesse grupo, 6,9 % eram brancos e 1,7% eram negros, uma proporção que nega a quase eqüitativa distribuição entre brancos e negros na população brasileira.

Por isso, a luta pelas cotas raciais é justa.


Artigo publicado no jornal O Liberal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário