segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tráfico humano: uma violação de direitos


                                                                                                      *Arnaldo Jordy
O Brasil é país de origem, destino e trânsito de tráfico de pessoas.  Pesquisas da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontam a existência no país de mais de 240 rotas de tráfico interno e internacional de crianças, adolescentes e mulheres brasileiras. A Universidade de Brasília indicou 930 cidades do país como foco de tráfico de pessoas, tendo como principais destinos Espanha, Portugal e Suíça.  Apontado como uma das atividades criminosas mais lucrativas do mundo, o tráfico de pessoas faz cerca de quatro milhões de vítimas, movimentando aproximadamente 32 bilhões de dólares, segundo dados das Organização das Nações Unidas (ONU).

A grande maioria das vítimas do tráfico são mulheres, de baixa renda, com 16 a 25 anos de idade, traficadas para fins de exploração sexual. Crianças e adolescentes também são vitimadas por essa barbárie, que ainda envolve a dramática comercialização clandestina de órgãos humanos, turismo sexual e o trabalho escravo. Lamentavelmente a sociedade ainda não conhece a dimensão desse crime e muita das vezes as pessoas se deixam enganar por “oportunidades” profissionais, como carreira de modelo ou mesmo de jogador de futebol no exterior. Existem agenciadores que recrutam crianças com o sonho de se tornarem estrelas do esporte e no fim das contas, lamentavelmente, elas se tornam reféns desses criminosos.

Na semana passada, a Câmara Federal instalou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as causas, as consequências e os responsáveis pelo tráfico de pessoas. A CPI foi uma proposição do nosso mandato para enfrentar o crescimento dessa prática e a dimensão que esta tem tomado no país. Investigar e trazer a público essas investidas somará no combate a essa modalidade criminosa. A ONU já solicitou a todos os países a implementação do Plano de Ação Global contra o Tráfico de Pessoas, em que uma das principais metas é coordenar ações em todos os níveis para lidar com este fenômeno em nível internacional. O mesmo está sendo feito no âmbito do Mercosul por meio do Projeto Regional de Combate ao Tráfico de Pessoas.

No Brasil, já vivenciamos essa experiência e, à época, nosso mandato acionou a Polícia Federal para resgatar mulheres que haviam sido levadas para o Suriname na promessa de trabalho com ganhos bem superiores aos que se pagava no país. Na realidade, tratava-se de agenciamento para a prostituição. É conhecido também o caso de paraguaios resgatados pelo Ministério Público do Trabalho em São Paulo, que moravam e trabalhavam em condições subumanas no setor têxtil, confeccionando roupas para a chamada grife “Lafee Confecções”. No Pará, estado onde combatemos a exploração sexual de crianças e adolescentes, a realidade do tráfico humano também é uma questão desafiadora. No ano passado, a polícia civil de São Paulo desmantelou uma rede de tráficos de pessoas para exploração sexual. A polícia encontrou duas pensões que abrigavam mais de 70 travestis, entre eles, seis adolescentes. A maioria das supostas vítimas era provenientes do Pará.  Outra rota investigada é a do Suriname, identificada por pesquisas da Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos -SPDDH-, da ONG Sodireitos e do Grupo de Mulheres Brasileiras. 
 Nossa expectativa é garantir que a CPI aprofunde ao máximo as informações e denúncias sobre essa prática criminosa, consolidando um mapeamento capaz de ajudar a combater esse crime e produzindo propostas para a prevenção e fiscalização da violação dos direitos humanos. A missão é assegurar que o Brasil se constitua em uma nação livre de práticas que não condizem mais com os valores que se espera de uma civilização, em pleno século XXI.

·         Arnaldo Jordy é deputado federal pelo PPS/Pa e vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.


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