quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Patrimônio Histórico aos Pedaços



Antônio Tavernard, poeta paraense que viveu em Icoaraci até o século passado, além de sua obra deixou um casarão na rua Siqueira Mendes, esquina com a travessa São Roque. Lá ficaram parte de sua vida e da nossa história. Mas quase tudo está perdido, aos pedaços, no chão, tomado por mato e destruído pelo tempo. É a ‘poesia’ em ruínas. Ninguém liga. A Casa do Poeta virou abrigo para moradores de rua e dependentes químicos, além de bandidos. O imóvel teria sido desapropriado há décadas e entregue à Segup. Mas há um silêncio sobre o prédio e também a obra do poeta. O deputado Jordy ainda destinou Emenda parlamentar para contribuir com a restauração e reconstrução da casa, mas como legalmente a destinação do imóvel não avançou, o recurso acabou não liberado. Pena. Mais um patrimônio destruído em Belém. 

A HORA DA VOLÚPIA (Antônio Tavernard)

No silêncio da tarde que adormece
minha alma freme, torturada, louca,
num desejo d'amor que em minha boca
tem um murmúrio hipócrita de prece.

Prece da carne. So se o for. Espouca
longínqua gargalhada que parece
ser de um duende, vergastando, rouca
essa febre brutal que em mim recresce.

Febre de gozo sopitado. Anseio
de beijar, de morder moreno seio
de uma mulher que se ofereça nua.

Tudo é lascívia – verifico pasmo
E o próprio mar que ao longe tumultua
Ruge e rebrame em convulsões de espasmo

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