Você sabia que o terreno da casa de
sua família pode não ser legalizado e você ainda é obrigado por lei a pagar até
quatro tributos para ter direito a viver e construir sobre ele? Pois é. E a
Secretaria de Patrimônio da União (SPU) já entrou com ações na Justiça Federal
para obrigar você a pagar, anualmente, o foro de 0,6% sobre o valor do terreno;
a taxa anual de ocupação; e o laudêmio – valor que a União cobra nos casos de
benfeitorias, transferências ou cessões de imóveis nesses terrenos -, mesmo
você também pagando à prefeitura o IPTU (Imposto Territorial e Predial Urbano).
Para acabar com toda essa abusividade
de cobranças – consideradas bitributação – parlamentares da Câmara
Federal e do Senado apresentaram vários projetos de lei. E para debater os projetos,
essas cobranças e a situação de cerca de 300 mil moradores que ocupam essas
áreas em Belém, a Comissão Especial da Câmara Federal realizou uma audiência
pública hoje, no auditório João Batista da Assembleia Legislativa do Pará.
O Deputado Federal Arnaldo Jordy é
autor da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) Nº 39/2011, que extingue a
‘‘taxa de Marinha’. O deputado ressalta a importância do apoio da população
para o fim dessas taxas, que causam prejuízos aos moradores e aos municípios
que ficam impedidos de implantar políticas públicas de desenvolvimento e de
planejamento territorial urbano.
Há vários anos Jordy apoia moradores dos bairros
do Jurunas, Cidade Velha, Guamá, Condor e da ilha de Mosqueiro que lutam contra
a cobrança dessa taxa, com apoio do Ministério Público e da OAB - Pará (Ordem
dos Advogados do Brasil) na justiça e contra a tentativa da União (SPU) em
levar os bens e imóveis de moradores dos ‘terrenos de Marinha’ à leilão, para
quitar os débitos junto à SPU. “Essas são distorções que caminham há
praticamente 195 anos e o tratamento dado a essas áreas não faz mais sentido
porque a legislação que trata do assunto foi estabelecida há quase dois
séculos, remontando um cenário que não se enquadra mais na realidade nacional,
é necessário que o bem seja liberado, tirando assim do cidadão uma divida que
não é de sua responsabilidade, tornando a legislação mais justa e contemporânea”,
explicou o deputado.
Para Jordy a cobrança é uma
imoralidade, já que a união arrecada para seus cofres 886 milhões de reais por
ano, e não leva beneficio algum para a população que habita essas áreas.
Segundo o agrimensor, defensor
público e estudioso Cândido Paraguassu Eleres, que também defende a extinção
dos ‘terrenos de marinha’, qualquer nível de maré nos dias de hoje não é
verdadeiro para a demarcação desses terrenos, por causa da elevação do nível do
mar e da alteração da topografia ao longo do litoral brasileiro.
O que são Terrenos de Marinha?
Os Terrenos de Marinha são áreas
situadas na faixa de 33 metros de distância da maré alta e também de rios
e lagos, sob influência de marés. Além dos terrenos em Belém e na Região
Metropolitana, há vários terrenos em todo o arquipélago do Marajó e em dezenas
de municípios do estado nessa condição. Esses terrenos estão entre os bens
imóveis da União e, para ter o direito de ocupá-los, é preciso pagar anualmente
o foro, de 0,6% do valor do terreno; a taxa anual de ocupação; e o laudêmio –
valor que a União cobra nos casos de benfeitorias, transferências ou cessões de
imóveis nesses terrenos.
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